quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Preciso deixar de beber

Não faltar às aulas, dormir cedo, respeitar os mais velhos
Tirar notas altas, desprezar os viciados
Crescer, ser Católico Apostólico Romano
Só assim poderei ser
Um cidadão respeitável

Preciso casar na igreja, adular o padre, pagar dízimo
Comprar um carro, fundar uma indústria, arrancar três árvores
Adquirir alguns preconceitos, aprender o cinismo, a violência e a hipocrisia
Tornar-se doutor, ingressar na sociedade
Bajular políticos, dar esmolas em público

Preciso de tudo isso
Porque preciso subir na vida
E honrar minha família
E tudo isso é mais importante
Bem mais importante e necessário
Do que pensar

Preciso sobre tudo
Ser católico
Para que me abram as portas do paraíso.

(Manuel Cavalheiro)

Vulgo pai da Anna Karenina Cavalheiro e tio do Cícero Cavalheiro.
Eu adoro essa família! Adoro tanto que as vezes sinto-me parte.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Sarah, vamos dividir nossas lágrimas

Vamos rir sem parar de toda essa gente sem graça nem vida, como se elas fossem uma piada, como se fossem uma comédia. Mas na verdade, somos nós que somos assistidas, e infelizmente, julgadas. E eles dizem como devemos ser, como devemos fingir que somos felizes. Não precisamos ouvi-los. Eles não sabem o que é viver. E eu não me importo com o que podem dizer. Nem se riem, ou se choram suas vidas inúteis. Nós estamos juntas, e ninguém pode mudar isso. Sarah, você entende? Podem fazer o que quiserem, nada vai mudar entre nós, em nossos sorrisos. Sarah, você sente. Sente como eu sinto, por isso eu te amo. Por tudo e por nada. Pelas lágrimas e pelo riso. E pela platéia, porque nós somos nós.


(Anna Karenina)

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Seguir esta convenção? Eis a questão!

Quem disse que assim as coisas funcionam? Que assim o mundo gira?
Seguir os passos dos outros sem questionar o porquê? Não, nós não colocamos fora nossas idéias. Para elas, a atenção
Aceito só o que a minha vontade pedir
Quem disse que precisa ser desta maneira?
Se eu não quiser, eu invento outra
Me reinvento
Juntas, nos reinventamos

Mochilas nas costas
Pés na estrada, passos confiantes
Idéias na cabeça
E estaremos por aí, livres pelo mundo
Poderá nos encontrar em alguma esquina rindo de bobagens
Debochando de nós mesmos
Somos um mesmo começo com vários fins e histórias para contar

Prazer é não saber o que nos espera do outro lado
Neste momento aqui, mas com a mente em outro lugar
É como se tivéssemos asas
Voamos mais alto, para mais longe
Quando isso acontece, nossos pensamentos se encontram
O que nos faz mais fortes

E quando nos disserem: O jogo acabou!
Iremos começar com tudo novamente
Queremos mais, muito mais

Quem assiste, costuma nos chamar de idiotas
E a razão será concedida
Eu afirmo com certeza: É isto o que somos
Pois preocupação seria se pessoas como vocês gostassem de nós

Iremos nos divertir loucamente
Beber demais, opa, juro que foi um acidente
E quanto às fortes emoções?
Expressar o amor, o medo e todas nossas indignações

E o meu silêncio?
Pode ser quando a boca cala
E os sentimentos se expressam naturalmente, por si só
Sem palavras, nem sussurros
Somente o amor que eu tenho por vocês

É como eu sempre digo: "Que pra gente, seja sempre tudo muito quente, sem meios termos, gostamos é do exagero."

Dedicado à Anna Karenina e Carolina Calegaro, minhas inspirações.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O sol se põe

E com ele vem a vontade
São seis horas, mas seu olhar já está embaçado
Sem ter muita noção das convenções criadas pela sociedade, exagera nas doses
Perdeu seu equilíbrio e junto com ele sua vergonha
Compreendendo apenas os barulhos que lhe cercam, arrisca alguns passos desorientados

Sem medo, expressa suas alegrias, tristezas e luxúrias
Sem medo, grita ela suas vontades
Grita para os amigos, para a lua, para o cão e para o nada
Não se importa com quem ouça, pois fala apenas verdades
Abre seu coração para mendigos, estranhos e inimigos
Saiu sem um real no bolso, mas mesmo assim voltou sem o casaco
Perdeu o orgulho, a chave de casa e o amigo

Gritando pelos seus desejos, com a mente embriagada, assim ela será lembrada
Lembrada pelos escândalos jamais esquecidos, pelas coisas erradas
Pelos teatros e fiascos

É antes do sol nascer que vem a total inconsciência
A moça bebeu até esquecer-se de sua existência
Mas existe apenas algo que seu instinto ainda procura
Em qualquer esquina, no fundo de uma garrafa vazia
No seu vômito ou em suas lembranças: encontrar-te com a certeza que serias o único a me compreender.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Boêmio amador


Depois de doze doses em um dia sem vida
Com seu sangue sem sal que fecha suas feridas
E com um sorriso amarelo, pedindo a mais pedida
Com a saliva grossa que vai junto com a bebida

Sem orgulho, muito menos arrependimentos
No alcool alheio que enche a sua pança
Num mergulho contra seus sentimentos
Não lembra de ontem, muito menos da infância

O boêmio sujo já foi um bom marido
Foi apresentado ao gênio da garrafa
E tem direito ao seus três pedidos
Duas caipirinhas e uma carona para casa

A sua risada já não é a mesma
Não tem comparação com a sua tristeza
De voltar para casa, andando feito lesma
E não ter ninguém para compartilhar a mesa

Não deve ser normal, assim nessa idade
Estar insatisfeito com tantas histórias
Sempre à procura de alguma novidade
Mesmo que não caiba na sua memória

Nunca percebe que já não faz mais nada
Além de só permanecer sentado
Enquadrando bundas no bar de madrugada
E mentindo não estar embriagado

O sol já vem e ele não esconde que o teme
Mas se prepara para a consequência
É perceptível, seu corpo todo treme
"Maldita ressaca, que dor na consciência"

Mas não adianta, o bar está sempre aberto
Por isso é difícil encontrar a cura
E mesmo que feche, sempre há outro perto
E a sua sede não impede, só procura

CÍCERO CAVALHEIRO

Enquanto a beleza fácil se oferece nas ruas vazias

o melhor está chamando por mim do outro lado da calçada. Posso avistar um trago fino em suas mãos, a expressão de quem bebeu, gostou e vai fazer novamente. O vômito que respingou pelo corpo, as histórias contadas e a certeza da liberdade que carrega consigo. Um sorriso de quem sente prazer em viver e consegue me convencer do valor que existe em te ver sorrir. És o cabelo bagunçado, a sujeira debaixo das unhas e o encanto. A calça jeans desbotada, o blusão rasgado, e a simplicidade.  É essa vontade de reinventar o mundo, querer o impossível, errar e não desistir de continuar errando. Ser a inspiração para si, para mim, para os outros. Mas quando falamos de outros, perto de ti são apenas pessoas comuns, sem a essência da vida.

Minha criança, minha inspiração

Você cheira a loucura
Tão doce, tão incerto
Você vem como consolo, como comida

Minha criança, meu monstro
Eu gosto das suas lágrimas de sangue
Estarei aqui quando a ultima cair
Porque como você prometeu morreremos de mãos dadas

Consigo lembrar-me de todas as coisas que fizemos
E nenhuma pode doer mais do que sua ausência
Mas posso prometer a você
Que estaremos sempre juntos em meus sonhos quebrados

Minha criança, meu pecado
Que seja por dor ou por amor
Eu continuarei sendo sua maior desgraça
Um corpo despido, usado e deixado

Quero que você sinta toda a dor que eu senti por você
E mesmo assim não deixe de me amar
Quero que você sofra comigo, preciso dos seus pedaços
Para conseguir colar o meu coração despedaçado

Minha criança, confusa e insana
Quero abraçá-la forte e enche-la de minhas amargas mentiras
Tente acreditar em mim, blefarei apenas em parte
Quero que sinta a excitação em minha pele
A excitação que me acordou de seus malditos sonhos
Onde eu pedia ajuda por estar sempre sufocada
Agora sou sua única fonte de prazer, sinto-me presa aqui dentro
Dentro do casulo que você criou pra fugir da realidade
Não tenha medo de me usar, eu não terei medo de te machucar
Acostumarei-me com a idéia de ser seu objeto descartável 
Porque logo depois você há de me mandar embora

Apenas quem permitir-se poderá chegar do outro lado. Do outro lado da vida, da alma. Há sempre um lado desconhecido para todas as coisas.

         Foi um sonho bonito, não queria acordar. Era tranquilo, sentimento de paz. Enquanto viajava comigo mesmo, eu enxergava uma fada, quase imperceptível aos olhos de alguém que com o tempo já teria perdido sua magia, seu encanto, sua essência. Apenas seres humanos “puros”, que possuíssem uma mente liberta de maldades, ingênuos, desapegados, poderiam avistá-la. Era realmente uma fada encantadora, luzes fascinantes, olhos angelicais. Flutuava como o vento.

         Ela perguntou-me gentilmente se eu acreditava em um outro lado. Um lado que com o tempo já estaria apagado para a maioria das pessoas, as que não fossem como eu. Respondi sorridentemente que sim, acreditava eu ainda, com 16 anos de idade, em fantasias, sonhos e no amor de verdade. Quis a fada então que isso tornar-se real dentro de mim. Decidiu mostrar-me o outro lado, um lado para poucos.

         Apresentou-me a maior das energias, a suprema. Era uma energia boa, causava sensações arrepiantes. Mente viajava. Energia da qual eu jamais havia sentido aqui, neste lugar que alguns permanecem para sempre, sempre ligados á realidade. Energia que dinheiro nenhum poderia comprar. E os que quisessem comprar esta paz, jamais poderiam sentir. Era o preço a pagar por estarmos presos á conceitos e valores inúteis de uma sociedade que nunca soube sonhar.

         Então a energia suprema transformou-se em um rosto faiscante, deu-me as boas vindas e pediu para acompanhá-la. Passei por um portal. Minhas roupas desapareceram e todos do outro lado estavam nus. Era um local escuro, sem chão nem teto. Luzes por todos os lados me deixavam leve, era somente corpo e alma. O local cheirava a sexo, amor e liberdade.

         A face da energia estava explicando porque havia me convidado para este local. Queria esclarecer coisas que outras pessoas já não se importavam mais, não davam valor, ignoravam ou fingiam não saber por puro desinteresse de procurar saber viver. Foi neste momento que me pediu para agachar devagar e abrir as pernas, de maneira que tivesse um contato mais direto com meu clitóris.

         Masturbando-me delicadamente sussurrou ao meu ouvido: “- Ingênua menina, permita-se, continue não sendo como os outros, continue sem medo de ser feliz, ouça seus gemidos, sua intensa respiração, descubra-se e libere as fantasias ocultas de sua preciosa alma. Aqui não há preconceitos,  sua única preocupação será agir com naturalidade, sem julgamentos, sem mentiras criadas para esconder sua liberdade sexual, apenas a satisfação de sua alma falando mais alto.

         O ritmo de seus dedos foi aumentando, a menina, ousando-se cada vez mais pediu para ele continuar até chegar ao ponto máximo de excitação. Passavam mil coisas em sua cabeça, o conforto da liberdade que não podemos ter no outro mundo. No outro mundo onde tudo era artificial, onde as pessoas não tinham vontade própria, não poderiam expor suas emoções e idéias. Deixavam-se serem controladas como máquinas ao invés de ousarem a conhecer a si mesmos.

         Em estado de transe, entrou. O exagero de seus gritos, o sangue que corria com pressa em suas veias, os batimentos acelerados de seu coração e sua pele suada lhe dava a certeza de que havia chegado a um lugar desconhecido pela maioria das pessoas. A hora de acordar aproximava-se, mas a viagem de sua mente era tão boa que queria ela continuar na eternidade desse sonho.


Não confunda sentimentos intensos com vulgaridade.