Um morfema
Com todos os acentos, tremas e tépidas
Eu quero um poema arrancado de ti
Com nacos de couro e pedaços de medo
Eu quero um poema rude
Um poema que te impeça de dormir
E se pareça com um jarro de vômito embalando tua ressaca
Eu quero um poema de punhal na carne
Que te penetre com força
No ventre
Machado
No teu cerne
E um berne na tua face, bem no meio da tua face
Eu quero um poema rude
Um poema que tu digas excessivamente que é áspero
Para que te responda simplesmente:
“Escuta o tingir de ferros, tuas algemas.”
(Manuel Cavalheiro)
É com prazer que resgato este poema entre folhas velhas do diário de Manuel Cavalheiro, quase em estado de decomposição. Eu não tenho autorização para posta-lo aqui, mas não deixaria estas palavras cruas em forma de arte serem enterradas com o tempo.